A arte de brincar ajuda no descobrimento e desenvolvimento de uma criança. Se divertir, sozinho, ou em grupo, é essencial na infância e é importante que os pais e educadores participem das diferentes etapas desse processo.
Pensando nas fases da infância e nas diferentes maneiras de se expressar e aprender brincando, a pedagoga e terapeuta artística Simone de Fáveri publicou uma análise a respeito do assunto que será trabalhado, aqui no Decolar, em duas partes.
Essa é a primeira. Entenda qual brincadeira trabalha o desenvolvimento correto do seu filho ou aluno em cada fase. Aproveite:
Breve panorama do desenvolvimento até os 12 anos
1 ano: Tateiam tudo com mãos e boca. Risco de ingerir objetos. Os brinquedos devem ser grandes, redondos ou arredondados: bolas de pano ou de borracha, bichos de tricô ou tecido, cestos para empilhar e juntar coisas. Exercitar a verticalidade no andar livre é a principal atividade da criança.
2 a 3 anos: Fase caracterizada por intensa atividade. Não se detêm muito tempo no brinquedo. São mais egoístas e tímidas. Não emprestam os brinquedos, não brincam com outras crianças muito tempo. Precisam de carros fortes de empurrar e de puxar, pás e colheres e recipientes para brincar na areia. Esta atividade ativa as forças plásticas, causando no organismo um bem-estar imediato. No futuro, estas forças se expressarão como originalidade criadora.
4 anos: Início da vida social, do brincar junto. A fantasia aflora. Imitação e repetição são a base do brincar. É ativa e falante, ainda com pouca concentração. Gostam de desafios como quebra-cabeças de figuras inteiras e conhecidas, dominós de bichos ou cores. Deleitam-se com blocos de construção de madeira e carros menores. A boneca acompanha o brincar. Brincar com madeira dá à criança a necessária quantidade de calor e “humanidade”, os brinquedos se personalizam, são simpáticos à criança.
5 anos: Têm maior domínio das mãos. Em geral, são mais calmas e felizes, tem maior autodeterminação e domínio. Ficam em silêncio por longos períodos. Fazem muitas perguntas. Manifestam muito interesse pelas letras, para esquecer no ano seguinte. Têm ideias claras do que querem como regras, a brincadeira surge como inspiração própria. A brincadeira pode parar em qualquer ponto (para brigar, almoçar etc). Lidam bem com jogos de dados simples. Precisam de variedade de objetos para construções da sua fantasia.
6 anos: Maior concentração e muita imaginação. O domínio corporal deve estar amadurecido, com lateralidade definida. Adoram desafios corporais tanto de motricidade ampla (subir nas árvores, construir cabanas, gangorras…) como os de motricidade final (tricô de dedo, debulhar grãos, pequenas costuras, manusear bonecos de teatro e outros). Aceitam regras e assumem papéis e tarefas dentro da sala. Começa o interesse pelas coleções e gostam de ouvir longas histórias. A memória já se faz presente como capacidade nova, revelando a passagem para a fase seguinte, da vida escolar.
Até 8 anos: A criança não se preocupa em compreender o mundo de maneira intelectual. Ela “agarra” o mundo com o corpo inteiro: escorregando, esburacando, correndo, dando cambalhotas. Brincar significa amar o mundo! Ela “devora” informações: coleciona.
Aos 9 anos: Interessam-se por jogos que exigem concentração, habilidade, movimento, dinâmica: amarelinha, girar pião, correr com aros de arame, bolinhas de gude, pular corda, cinco-marias, etc.
Entre os 11 e 12 anos: Através dos jogos e histórias onde o dualismo da alma é vivenciado (apego a terra x relação com o espiritual) a criança é levada a se conhecer melhor, podendo chegar sozinha a conclusões morais. Jogos em grupo: esconde-esconde, pé na bola, polícia e ladrão. Jogos de tabuleiro: xadrez, damas e de cartas: dorminhoco, detetive etc.
Sobre alguns brinquedos:
Primeira boneca: Ao nascer a criança já pode ganhar uma boneca de nós, pequena, feita de seda, cetim ou algodão/flanela. No berço, serve como consolo para a hora de dormir, e pode acompanhar o bebê nas excursões fora de casa, como apoio, também conhecido como “cheirinho”.
Até 3 anos: A boneca com membros, mas pouco detalhada, com feições apenas sugeridas, parecida com a criança, por exemplo, na cor dos cabelos e dos olhos. É a boneca companheira, espelho da própria criança..
A partir dos 5 anos: Os bonecos flexíveis encontram seu espaço no brincar, pois espelham os papéis na vida social (pai, mãe, professor, médico, irmã, bebê, avós, etc). Por terem estrutura de arame, possibilitam o manuseio, variando gestos e posições, como um teatro. A casinha de boneca grande com móveis e compartimentos é o complemento ideal para este brinquedo, assim como bichos de pano, madeira ou de tricô, canoas e carrinhos que possam ser ocupados pelos personagens. Tudo isto é válido tanto para meninas como para meninos.
Até os 6 anos: A boneca detalhada (com cabeça humana, corpo ereto, membros bem definidos, roupas, acessórios, distinção de sexo, raça, etnia) é um ancoradouro, oferece apoio emocional. Depois passa a ser uma companheira que terá seu lugar de honra no quarto, até muito tempo depois da criança não mais brincar de “casinha”.
A partir dos 9 anos: Os bonecos podem ter distinção de sexo. Antes, este detalhe não era importante, pois a fantasia da criança se ocupava da transformação necessária conforme a ocasião.
Jogos: Até 3 anos a criança praticamente brinca sozinha, mesmo acompanhada de outras. Tem pouca concentração e muda rapidamente seu foco de interesse. Depois desta fase, começa o brincar junto, com muita imitação. Aos 4 anos ela faz as regras. A partir dos 6 anos, aceita as regras vindas de fora. Agora as reações terão muito a ver com o temperamento particular de cada um. Aos 12 anos, digerem os jogos, relacionando-os com seu íntimo. Tiram conclusões morais.
No jogo, está contida a força que harmonizará a vontade da criança. Deve ser acompanhada de dois outros fatores: ritmo e fantasia. A fantasia é a fonte mais importante das forças criadoras da personalidade. O jogo deve vir do interior para o exterior: criança deve ser tocada no seu íntimo e excitada na sua extrema necessidade de mudança, assim aprende a dominar suas inclinações. A criança aprende que existem regras que as pessoas têm de manter para conviverem entre si. No seu jogo criativo, fazem suas próprias regras, bem rígidas até! É um exercício de dinâmica social.